[tábua das marés]
na vazante,
seu corpo se resumia em sal
[havia gesto]
na cheia,
seu corpo transbordava água
[e havia dança]
na vazante,
meu corpo desenhava no vazio
[havia rito]
na cheia,
meu corpo transitava o seu
[e havia luta]
entre, espaço : tempo,
era presente e já não era
[mas havia ritmo]
preamar, amar, baixa mar,
amar.
[e havia rima?]
e você ainda me dizia
não saber [sobre o domínio] da lua
em nossos corpos,
eu, tampouco, [sobre o amor].
[Ítaca II]
toca: confie em mim quando eu digo,
you'd be like heaven to touch.
em disputa,
o mar nunca perde.
e não há guerra
onde eu vou
[a vida vence,
quando eu olho para você].
[corumbau]
o mar cala
um coração solitário,
[instinto] e só, longe de tudo.
um corpo flutua na baía mansa
e liberta os barulhos da cabeça,
que se fundem ao silêncio côncavo
das mãos,
ou das profundezas das águas.
mas uma tristeza silenciosa
arrebenta a calmaria.
.
depois, em terra firme
calado, diante o mar miragem:
[ou seria intuição?] e só,
longe de tudo.
Antonio Martinelli é poeta, jornalista e gestor cultural. Autor de "Tetralogia da Peste [dois tempos, uma cidade]", publicado pela N-1 Edições e [gaia], lançado pela editora Quelônio. Trabalhou na Revista Caros Amigos. Foi colunista da Revista Pessoa. Tem poemas publicados na revista Glac, USO e Continente, e participou da coletânea "2020: o ano que não começou", da Editora Reformatório. Desde 2005, trabalha no SESC São Paulo. Foi curador e coordenador do projeto "Brasil, país homenageado na Feira do Livro de Frankfurt", em 2013, na Alemanha.
Foto: Yghor Boy
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