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3 poemas inéditos de Antonio Martinelli



[tábua das marés]


na vazante,
seu corpo se resumia em sal
[havia gesto]
na cheia,
seu corpo transbordava água
[e havia dança]

na vazante,
meu corpo desenhava no vazio
[havia rito]
na cheia,
meu corpo transitava o seu
[e havia luta]

entre, espaço : tempo, 
era presente e já não era 
[mas havia ritmo]

preamar, amar, baixa mar,
amar.
[e havia rima?]

e você ainda me dizia 
não saber [sobre o domínio] da lua 
em nossos corpos,

eu, tampouco, [sobre o amor].



[Ítaca II]


toca: confie em mim quando eu digo,
you'd be like heaven to touch.


em disputa,
o mar nunca perde.

e não há guerra 
onde eu vou
[a vida vence,
quando eu olho para você].




[corumbau]


o mar cala
um coração solitário,
[instinto] e só, longe de tudo.

um corpo flutua na baía mansa 
e liberta os barulhos da cabeça, 
que se fundem ao silêncio côncavo 
das mãos, 
ou das profundezas das águas.

mas uma tristeza silenciosa 
arrebenta a calmaria.

.

depois, em terra firme 
calado, diante o mar miragem: 
[ou seria intuição?] e só, 
longe de tudo.




Antonio Martinelli é poeta, jornalista e gestor cultural. Autor de "Tetralogia da Peste [dois tempos, uma cidade]", publicado pela N-1 Edições e [gaia], lançado pela editora Quelônio. Trabalhou na Revista Caros Amigos. Foi colunista da Revista Pessoa. Tem poemas publicados na revista Glac, USO e Continente, e participou da coletânea "2020: o ano que não começou", da Editora Reformatório. Desde 2005, trabalha no SESC São Paulo. Foi curador e coordenador do projeto "Brasil, país homenageado na Feira do Livro de Frankfurt", em 2013, na Alemanha. 













Foto: Yghor Boy




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