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Alma Aiye Dun na Primavera Pretapalavra, por Oluwa Seyi



Salve, salve, pessoal! Achego-me mais uma vez ao espaço generoso do #Pretapalavra para compartilhar com vocês como a primavera de mulheres negras pode ser emotiva e insondável. Encantadora, eu diria.

Em 2022 (por acaso ou não, na primavera), conheci Alma Aiye Dun. Na verdade, ela me conheceu primeiro e só depois tive a alegria de conhecê-la também. A Poesia fez-se ponte entre nós duas. Alma acompanhava meu trabalho poético nas redes sociais e adquiriu meu livro, O que há de autêntico em uma mãe inventada, ainda durante a pré-venda. Nesses primeiros contatos, já tão imersos e imensos em afeto, eu soube que aquela pessoa, de fato, me lia. Lia com atenção, lia as entrelinhas, lia a mulher que escrevia; e isso, vocês devem saber, anda cada dia mais raro. Ser lida por ela refrescou-me as razões pelas quais escrevo e que, pela dificuldade que há em viver de arte no Brasil, eu já não trazia de memória (tanta coisa na cabeça, não é mesmo?).


Eu estava numa fase complexa, finalizando aspectos importantíssimos do meu livro e paralisada de medo daquele bicho de sete cabeças chamado "publicar" e Alma apareceu e simplesmente me leu. Leu, sentiu, comentou poemas, refletiu sobre os temas centrais do que produzo e, depois disso, sem conhecer nada além do que eu apresentava naqueles escritos, convidou-me para redigir o posfácio de seu segundo livro. Simples assim.


Meu medo passou. Ali, naquela conversa informal mas tão importante, eu recuperei o que nunca deveria ter permitido que sumisse: a certeza de que a Poesia encontra seu rumo. Sim, eu estava vivendo pelas preocupações com revisão, capa, prazos, vendas e afins, mas nada disso era o fundamental. O fundamental era e sempre será as conexões que a Poesia promove. Alma, conhecendo de mim única e exclusivamente o amor e a escolha pela escrita, concluiu que eu seria a pessoa indicada para carregar junto nas páginas finais de seu livro. E, de fato, fui. Que

honra ter sido.


Alma, nascida no Mato Grosso e residente de Sertãozinho/SP, é uma jovem artista simultaneamente doce e forte. Seu primeiro livro de poemas foi batizado de A balada das cigarras (Artefato Edições, 2021), e o segundo, o qual fui convidada para posfaciar, veio ao mundo como Línguas estranhas: Para enterrar os mortos (Artefato Edições, 2023). Escritora, atriz, artesã, produtora audiovisual, zeladora espiritual e dona de um olhar interessante para dentro e fora de si, aspecto este que fica muito em evidência em sua escrita profunda e bem acabada.


Traduzindo meus sentimentos, posso dizer que aceitar o convite dessa escritora tão encantadora foi um presente. Quando finalmente li seu livro e prepararei o coração para escrever o posfácio, fiquei mais grata ainda por ter sido escolhida. Línguas estranhas é um livro de poesia sensível, autêntico e cativante. Sinto que ter um pedaço de mim nessa obra é algo muito justo, porque também carrego em mim um pedaço dela. Fizemos um escambo afetivo, eu diria.


Poder testemunhar de tão perto essa primavera de Alma nutriu em mim, mais ainda, a perspectiva inter/multi/transdisciplinar sobre a qual discorri no meu texto de estreia aqui no #Pretapalavra. Nesse posfácio, o qual tanto amei escrever, a crítica literária abraçou a poeta e ambas cantaram juntas "O que há de Alma na alma que é minha". Descobri que sempre há muito do outro no que julgamos essencialmente nosso e também muito de nós no que jamais antes tomamos consciência. Isso, sem sombra de dúvidas, é uma das várias acontecências da vida que nos humaniza, algo do que também falei no texto passado. Saí muito mais humana do conjunto de poemas de Alma porque a li como ela meu leu. Li com atenção, li as entrelinhas, li a mulher que escrevia. Finalmente, a conheci por intermédio da Poesia, assim como ela me conhecera, tempos antes. Fizemos um escambo afetivo, eu diria.


Indico veementemente a vocês que, como eu, levem e deixem um pouco com Alma (principalmente por meio de Línguas estranhas, mas também de A balada das cigarras ou de seu trabalho-oferenda como atriz, artesã e produtora audiovisual). Acheguem-se também, sabendo que é uma honra acompanhar suas florações sábias, sensíveis, íntegras e, ao mesmo tempo, conectadas com éticas de gênero, raça, crença espiritual e com o lugar que a intersecção disso ocupa no nosso tempo.


Por fim, além de indicar que busquem saber mais sobre as pegadas bonitas que Alma tem imprimido por onde passa, também quero convidá-la para imprimir um pouco de si aqui neste nosso espaço, o #Pretapalavra, e compartilhar conosco quem são as mulheres que a inspiram artisticamente, assim como ela tem me inspirado. Novembro é o mês em que Alma completa mais um ano de vida (ainda não estamos satisfeitas com as muitas metáforas primaveris, não é mesmo?!), mas será ela quem nos presenteará com a oportunidade de ver o mundo através de seus olhos. Muito obrigada, querida Alma, e seja muitíssimo bem-vinda! A casa é toda nossa; é toda sua: sinta-se à vontade para enfeitá-la com as flores do seu afeto!












Oluwa Seyi nasceu em São Paulo, na década de 90. É poeta, pesquisasora, critica literária e percussionista. Possui graduação e mestrado em Letras pela Universidade de São Paulo, e atualmente desenvolve pesquisa de doutorado também em Letras, na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, pela mesma instituição de ensino. Seus interesses de pesquisa são a produção artística de mulheres negras e a representação da experiência afrorreligiosa nas artes. Autora do livro de poesia O que há de autêntico em uma mãe inventada (Ed. Urutau, 2022), do zine estudo poético do corpo (2021, edição independente) e da plaquete digital Poemas que atravesssam meu corpo negro & fêmeo (2024, edição independente) . Tem poemas, contos e artigos publicados em revistas e antologias literárias e acadêmicas de diversos estados do país, como Cartas para Esperança (Ed. Malê, 2022) e Cadernos Negros 44 e 45 (Ed. Quilombhoje, 2022/2024). Além da escrita literária, interessa-se em tradução de poesia e escrita para áudio-visual. Atualmente é integrante do Sarau das pretas, coletivo artístico-literário gestado por mulheres negras. Escreve desde que se recorda e não consegue imaginar a si mesma longe do lugar de produtora, apreciadora e crítica de literatura.














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