Qual o desafio mais recorrente da tradução?
Gosto de uma definição, extensa, que faz Maria Negroni sobre a tradução de poesia no livro A arte do erro (100/cabeças, 2022). Ela define a tradução em 7 verbos (ler, exilar-se, transferir, ouvir, amar, criar e desmentir), para mim os mais desafiantes são: exilar-se, ouvir e transferir. O exílio do poema supõe adentrar no poema com incertezas (a vida já está cheia de incertezas, mas essa é apavorante), para transferir é necessário estar ciente de que haverá perdas e ganhos (às vezes dói muito perder) e ouvir implica poder verter na língua de chegada a musicalidade do poema (baita desafio).
Qual poema (ou poeta) achou mais desafiador traduzir até hoje?
Os sonetos de Rubén Darío. Fiz duas traduções no ano de 2019 (quando fiz o curso com Dirceu Villa) e ainda não estou satisfeita com o resultado. Darío consegue articular forma e conteúdo de uma maneira muito sólida; passaram-se anos e não consigo chegar nessa solidez.
Qual poeta ainda sonha traduzir?
Tantos! Mas, acho que Cristina Peri Rossi e Carmen Olle são as primeiras da fila.
Ficou faltando indicar alguém?
Não consigo nem pensar em um número rsrs. Quando recebi a proposta, fiz uma lista que mudou tantas vezes!! Por falar em alguns nomes: Mónica Ojeda, cuja poética é impressionante; e Susana Thénon, tem uma potência lúdica poucas vezes vista.
Ayelén Medail é pesquisadora, tradutora e professora. Oriunda de Entre Ríos, Argentina, mora no Brasil desde 2012. É doutoranda em Literatura Hispano-americana pela USP, onde pesquisa os ensaios de Gabriela Mistral e Alfonsina Storni em chave ginocrítica. Traduziu Dezenove garras e um pássaro Preto e Saboroso Cadáver, de Agustina Bazterrica (Darkside), História do Leite, de Mónica Ojeda (Jabuticaba) e A arte do erro, de María Negroni, em parceria com Diogo Cardoso (100/cabeças).
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