top of page

Bate-papo com Henrique Provinzano Amaral - PoesiaQueer





O que é poesia queer pra você?

Essa pergunta é bastante complexa e, é claro, tentei responder a ela com minha curadoria ao longo dos últimos meses. Porém, mais do que tentar definir o que é ou seria a poesia queer, o que me interessa é olhar para certa produção poética – feita por pessoas queer? Que trata de sexualidade queer? Aqui, faço coro às perguntas levantadas por Ana Cláudia Romano Ribeiro em seu bate-papo –, de um ângulo em que isso que entendo como queer (no sentido quase etimológico de algo que estremece o senso comum e causa estranheza no pensamento heterocentrado) pode contribuir para uma leitura mais acurada. A poesia queer, para mim, está tanto na ousadia sutil de W. H. Auden, quanto na tensão de Fabio Weintraub ou de Roberto Piva. É mais um modo de ler certa produção do que uma categoria identitária fechada.


Quais são as/os poetas mais proibidonas/ões do universo da poesia queer?

Não sei responder ao certo a essa pergunta, porque não sei se existe um universo da poesia queer no sentido de um grupo ou de um corpus de autore.a.s. O que existe, a meu ver, são textos que circulam com maior ou menor facilidade, e isso devido a fatores que incluem, sem dúvida, as proibições da moral burguesa e/ou religiosa. Mas acho que o termo “proibidão” leva a pensar a poesia queer como uma categoria anexa à poesia propriamente dita, um pouco como as antigas salas de pornografia das videolocadoras. E, para mim, o interessante é encontrar o queer em todas as estantes, da Grécia Antiga à contemporaneidade.


Ainda é um tabu versar sobre sexualidade em poesia?

Isso depende de que sexualidade e de que poesia estamos falando, mas, no geral, penso que não. Pelo que pude ler da assim chamada poesia contemporânea brasileira, me parece que ela é um dos gêneros textuais – ao lado do romance e do teatro, sem dúvida – em que mais se fala sobre sexualidade, e sobre sexualidades que fogem à norma heterocentrada. Como tentei desenvolver ao longo da minha curadoria, a questão para mim não está exatamente na liberação de um tabu ou tema proibido, mas no modo como o elemento queer encontra poéticas diversas e as alimenta de maneira também diversificada. Não basta versar sobre sexualidade para que o poema funcione, mas essa é, com certeza, uma das forças propulsoras da poesia que se pratica hoje – algo que é rico e potente, por exemplo, na obra de Matheus Guménin Barreto, entre outros e outras.


Ficou faltando indicar alguém?

Com certeza! Acho inclusive que minha curadoria foi bastante limitada em termos de recorte – afinal, selecionei quatro poetas homens e gays, rs. Isso não foi programático nem uma escolha pelo meu “lugar de fala”, mas porque foram os autores com que me senti mais à vontade para dialogar desse ponto de vista. Na última postagem, apontei um pouco para a vertente trans a partir da série “Sete poemas trans”, de Fabio Weintraub, vertente essa que gostaria de ter explorado mais. Mas já existem no site curadorias excelentes, e outras virão. Vida longa à #poesiaqueer!








HENRIQUE PROVINZANO AMARAL é poeta, tradutor e pesquisador. Graduado, mestre e doutorando em Letras pela USP, dedica-se ao estudo e à tradução de escritores.as do Caribe francófono, especialmente do martinicano Édouard Glissant. Como tradutor, publicou, além de ensaios desse autor, os livros Jan Mapou Jan (com Vanderley Mendonça, Selo Demônio Negro, 2019), miniantologia do poeta haitiano Jan Mapou; a coletânea Estilhaços – antologia de poesia haitiana contemporânea (Selo Demônio Negro, 2020), que também organizou; e o livro de ensaios Queer Zones 1 (com Thiago Mattos, Crocodilo/n-1 edições, 2022), de Sam Bourcier. Como poeta, Henrique é autor do livro Quatro cantos (Patuá, 2020) e de poemas publicados esparsamente em veículos como Ruído Manifesto, Posfácio, Mallarmargens. Participou como tradutor convidado na FLIMA – Festa Literária da Mantiqueira, em 2018, e no Festival Vo-Vf, em Gif-sur-Yvette, França, em 2023.










#tradução&poesia








Comments


bottom of page