Bate-papo com a professora e escritora Maria Carolina Casati, do @Encruzilinhas - projeto de leitura e debate de textos sobre negritude, gênero, feminismos e militância.
Maria Carolina Casati foi nossa primeira curadora da #PRETAPLAVRA, iniciativa que busca incentivar a leitura de escritoras negras e o debate em torno dessa vasta e poderosa literatura.
Carol não só nos trouxe poemas e prosas do mundo todo, mas caminhou com a gente e nos aproximou um pouco mais das obras e do pensamento dessas grandes mulheres.
Toda nossa gratidão à Carol que, pra nossa alegria, segue com a gente como professora e também coordenadora da série de cursos e atividades da #PRETAPALAVRA. <3
Pensando em escritoras negras, se você tivesse que destacar algumas contribuições literárias decisivas
dessas mulheres, quais seriam?
Acho que é justamente a gente poder se narrar, acho que não tem contribuição mais importante do que elas escreverem e estarem aí no mundo, servirem de exemplo pra gente, possibilitarem que as pessoas leiam outras versões de nós mesmas, acho que essa é a contribuição mais importante.
Como você descreveria a ideia de escrevivência? É a mesma escrevivência de que nos fala Conceição Evaristo ou o conceito se adapta?
Sim, é a mesma escrevivência da qual nos fala Conceição, criada por ela, essa possibilidade ou essa prática, vamos dizer assim, esse jeito de mulheres pretas escreverem, que vai dar conta da nossa vivência, mas também da vivência do coletivo. E aí eu acrescento então a ideia da poeta Livia Natalia, brasileira também, que vai falar que a escrevivência é ato político, justamente porque ela parte do individual, mas esse individual só pode ser coletivo, porque representa todo esse grupo de certa forma e a partir do momento que é coletivo, que essa mulher se bota no mundo, é político. Assim é que eu descrevo escrevivência.
Muitas das autoras tratadas na #PRETAPALAVRA tem vínculos com a oralidade ou falam disso em seus trabalhos. Qual a sua relação com a oralidade na sua pesquisa acadêmica e também na produção literária?
Minha relação com a oralidade é que eu sempre me interessei pela palavra, sempre me interessei em saber como é que as pessoas se definiam pela palavra, como é que elas atribuíam significados à existência delas pela palavra. Claro que quando eu era mais nova eu não falava bonito assim, mas era isso que me interessava. E agora a minha pesquisa acadêmica é essa justamente. Há muito tempo eu faço entrevistas usando a metodologia da história oral, especialmente história oral de vida de mulheres, e agora eu faço entrevistas de vidas de mulheres pretas. Então minha relação é essa: como é que a gente se constitui pela palavra. Pensar então textos literários também como uma outra possibilidade de se narrar.
Leda Maria Martins vai dizer que nas culturas africanas a escrita não é tão importante, a oralidade é que importa, ela vai falar de "oralitura", e vai falar que a memória se inscreve nos nossos corpos para que a gente conte essas histórias. Eu acho que é mais ou menos isso que acontece também no texto literário. A gente quase que reescreve no papel tudo aquilo que a memória já escreveu nos nossos corpos.
Quem são as novas "Carolinas", as jovens autoras brasileiras que estão dando continuidade ao legado de Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e de tantas outras escritoras negras?
Bom a gente pode falar da Ryane Leão, a gente pode falar da Mirian Cristina Alves, falar da própria Eliana Cruz, acho que essas mulheres... a Dia Nobre não é preta, mas fala dessas questões também, são muitas meninas que agora estão escrevendo, que bom, e a gente pode se inspirar no texto dessas pretas, na verdade a gente tem visto muitas pretas na academia também, acho que isso é importante porque elas leem essas mulheres, escrevem sobre essas mulheres e depois acabam, de uma certa maneira, escrevendo sobre a própria vida. E vou botar Maria Carolina nesse momento também, porque Maria Carolina também se busca escrever por meio dessas narrativas ancestrais.
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