>> Poesia Queer, por Bárbara Krauss
Ao descobrir a antologia erótica de poetas cearenses "O olho de Lilith", engrenagens começaram a se mover nos meus pensamentos. "Porque é quase uma mania achar que autoras e autores do Nordeste falam apenas sobre o sertão", diria a organizadora Mika Andrade, no prefácio da antologia e eu havia caído nessa armadilha. Posso não ter restringido tanto escopo de escrita desses poetas, mas decerto que nunca teria pensado nessa proposta: uma seleção de poemas eróticos de autoras do Ceará (ou qualquer estado fora do eixo RJ-SP, tão lido como "universal").
Selo Ferina, Editora Jandaíra, 2019
Autoras: Anna K. Lima, Argentina Castro, Ayla Andrade, Bianca Ribeiro, Jesuana Sampaio, Mika Andrade, Nádia Camuça, Nina Rizzi, Sara Síntique, Suellen Lima, Vitória Régia
O que eu mais gosto em antologias é a capacidade de descobrirmos novos nomes, muitas vezes trata-se de uma relação às cegas em que só depois da obra conhecerei o artista. Em "O olho de Lilith" eu tinha uma pista a mais: todas são mulheres, todas elas do Ceará. Mas a especificidade vem para confirmar o seu oposto, não existe um jeito nordestino de transar, não existe um gozo cearense. O que existe são os costumes de se relacionar do local, o desejo individual e o flerte em diferentes sotaques.
Para essa primeira experiência na curadoria do #posiaqueer escolhi a poeta Sara Síntique, escritora, atriz e educadora, mestra em literatura pela UFC amplamente publicada em blogs e revistas literárias, que escreve como fala, fala do que sente e faz o que gosta, mesmo que para os outros essa prática seja um tabu:
Plural, Sara Síntique
E se, para mim, poesia queer não se limita às identidades de autoria e eu-lírico dos poemas, mas muito mais na sexualidade queer como tudo aquilo que não reivindica um ideal reprodutivo héteropatriarcal, Síntique é a poeta que vem ao meu encontro. Das práticas coletivas e individuais, ela trabalha a sexualidade de forma direta e reta, em oposição aos momentos de prazer que nos instiga sua poesia.
Xota, Sara Síntique
Bárbara Krauss é jornalista formada pela UMESP e responsável pelo B de Barbárie, espaço de divulgação cultural e narrativas políticas nas plataformas do Youtube e do Instagram (@bdebarbarie) desde 2017.
A #poesiaqueer faz parte de nosso projeto de acervo literário, onde convidamos escritoras(es), tradutoras(es) e pesquisadoras(es) para realizar uma curadoria inclusiva, refletindo sobre questões do fazer literário, que envolvem especialmente raça, gênero e orientação sexual.
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