Falar sobre a escritora carioca Eliana Alves Cruz é uma honra, mas, ao mesmo tempo, um grande desafio. São muitas as facetas de sua obra, são muitos os questionamentos que sua escrita suscita. Por ora, trago dois de seus romances: Água de Barrela e, o mais recente, Solitária.
Água de Barrela, seu romance de estreia, ganhou o Prêmio Oliveira Silveira de 2015, da Fundação Cultural Palmares, em parceria com o Ministério da Cultura. Também, com esse mesmo romance, conquistou menção honrosa do Prêmio Thomas Skidmore 2018, do Arquivo Nacional e da Brown University.
(Foto: Mirian Cristina dos Santos)
Esse texto, em que Eliana Alves narra a história de sua família desde o período da escravidão, é resultado também de um trabalho de pesquisa histórica. É possível perceber uma crítica a uma abolição inconclusa, que ainda hoje reverbera em um processo de violência contínua aos corpos negros. Aqui, além do seu talento para a escrita, vemos a jornalista (de formação) aflorar para fazer a pesquisa histórica.
(Água de Barrela, Ed. Malê, p. 243)
Já seu livro mais recente, Solitária, traz como tema uma amarga herança da escravidão: o trabalho doméstico no Brasil. Lançada em 2022 pela Companhia das Letras, a obra é narrada pela trabalhadora doméstica Eunice e por sua filha Mabel: duas mulheres negras que moram num “quartinho” nos fundos do apartamento de uma abastada família carioca.
Te lembrou alguma coisa? Pois é! O filme A que horas ela volta? é só uma das referências usadas pela autora. Confere!
Bônus: Se você se interessa por um bom romance histórico com pitadas de elementos policiais no mais puro estilo it’s all true, O Crime do Cais do Valongo (Rio de Janeiro: Malê Editora, 2018) é pra você. A narrativa começa em Moçambique e chega até o Rio de Janeiro, apresentando um cenário muito importante para a memória da escravidão no Brasil.
uma série de cursos, oficinas, aulas abertas e produção de conteúdo digital, que visa apresentar textos, poemas e pensamentos de mulheres negras, divulgando a "escrevivência" em seu sentido mais ancestral.
Livros disponíveis em: www.editoramale.com.br
Mirian Cristina dos Santos é Doutora em Letras (UFJF) e Especialista em Políticas de Promoção da Igualdade Racial (UFOP). Professora Adjunta do Instituto de Estudos do Xingu (IEX/Unifesspa). É autora do livro "Intelectuais Negras: prosa negro-brasileira contemporânea" (2018). Mirian também é idealizadora do Clube de Leitura Lendo EscritorAs.
Comments