Carmen Faustino é periférica da zona sul de São Paulo morando em Salvador. Poeta, escritora, educadora, pesquisadora e mobilizadora da cultura negra e periférica. Mestranda em estudos sobre mulheres, gênero e feminismo pela UFBA. Autora de "Estado de Libido ou poesias de prazer e cura" (2020). Publica em antologias e revistas desde 2012 e desenvolve projetos de fortalecimento da escrita e literatura de mulheres negras. Assina a co-organização de diversas antologias negras entre elas, "Ser Prazeres - Transbordações eróticas de Mulheres Negras" (2021), "Pilar Futuro Presente - Uma antologia para Tula" (2019), "Sambas Escritos" (2018) e "Pretextos de Mulheres Negras" (2013). É idealizadora e co-fundadora do coletivo Baobá Fortificando as Raízes, integra os coletivos Samba Sampa e Núcleo Mulheres Negras – O amor cura, de vivências e cuidado coletivo entre mulheres negras.
Falando de escritoras negras, se você tivesse que destacar algumas contribuições literárias decisivas dessas mulheres, quais seriam?
Nossas mais velhas são fontes de contribuições e acredito que nesta sociedade colonial e racista, todas que escrevem são inspiração. Destaco Maria Firmina dos Reis, pelo pioneirismo e sagacidade literária. Uma insubmissa Maranhense que driblou as amarras do patriarcado colonial racista e inaugurou representações negras humanizadas em seus desejos e subjetividades, no primeiro romance abolicionista que denuncia os horrores da colonização brasileira. Na década de 60, minha admiração se curva a Carolina Maria de Jesus e seu poder erótico, decisivo para o agenciamento de sua escrita. Carolina sabia que era uma escritora e os estigmas de raça, gênero e classe não a impediram de concretizar seu maior projeto de vida, lançar um livro. Finalizo honrando a nossa mestra Conceição Evaristo, pela escrita sensível e comprometida com o povo negro e por ter elaborado o pensamento que representa os caminhos da literatura negra escrevivente na diáspora brasileira.
Muitas das autoras tratadas na #PRETAPALAVRA tem vínculos com a oralidade ou falam disso em seus trabalhos. Em sua pesquisa acadêmica essa relação com a oralidade também existe?
Considero a oralidade um dos fundamentos que me sustenta e oríenta para a escrita, seja literária ou acadêmica. Escrevo com um propósito íntimo de externalizar minhas elaborações subjetivas e sustentar meus discursos apreendidos através da oralidade presente nas experiências negras e periféricas, que vivencio na afetividade, arte, cultura, espiritualidade e ativismo. A oralidade é o lugar de criação das escrevivências que integram a escrita negra.
Quem são as novas “Carolinas”, as jovens autoras brasileiras que estão dando continuidade ao legado de Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Miriam Alves e de tantas outras escritoras negras?
Acredito que estamos semeando um legado bonito e fortalecido para a escrita de mulheres negras. Nossas mais velhas abriram caminhos revolucionários na literatura brasileira e ainda seguimos em marcha, mas já projetamos em prosa e poesia os imaginários que desejamos sobre nós e nossos iguais, refutando toda e qualquer tentativa colonial de poder e submissão sobre nossas corpas e mentes criativas. São muitos nomes promissores, mas destaco de forma geral a crescente de um movimento de escritoras negras que sustentam posturas críticas à hegemonia eurocêntrica da literatura e criam suas próprias redes literárias de produção e memória, apoiadas por outras mulheres em projetos literários, espaços de saraus, slams, grupos literários e redes sociais.
O projeto PRETAPALAVRA, uma iniciativa d'A Capi em parceria com Maria Carolina Casati (@encruzilinhas), para divulgar e amplificar as vozes de escritoras negras.
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