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Invocando Audre Lorde #PRETAPALAVRA por Maria Carolina Casati






Poema “The Winds of Orisha”, traduzido por Tatiana Nascimento, do livro “From a land where other people live” (De uma terra onde outro povo vive), 1973. A obra integra a coletânea “Entre nós mesmas – Poesia reunida”, publicado pela Bazar do Tempo em agosto de 2020.




 


bell hooks, em seu Tudo sobre o Amor (Editora Elefante, 2021), afirma que, somente pelo amor construiremos uma sociedade mais justa e igualitária. Ela nos diz que, apesar de tudo, é somente acreditando no poder do amor-ação que transformaremos esse mundo tão cruel.


Cara bell, eu honro sua existência e agradeço às suas palavras. Mas, quando vejo a seguinte notícia, infelizmente não é amor o que me invade:



(*) Fonte:


Como confiar no amor quando o sonho de uma pessoa é ‘ser gente’? A gente quer comida – e, atualmente, alguns de nós vendem ossos para que outros se alimentem; muitos de nós recolhem carcaças de peixe nas caçambas de lixo...


Para amar, é preciso ser gente. Para ser gente, é preciso falar e ser ouvide. Para falar, é preciso sentir. Para sentir, é preciso poesia. bell, invoco nessa conversa com outra preta poderosa, Audre Lorde. Acho que, assim, consigo entender ainda mais a sua proposta.


A poesia não é um luxo é um belíssimo texto no qual Audre nos explica por que essa forma de arte não pode ser vista como supérflua, especialmente para as mulheres negras.


[A poesia] “É uma necessidade vital de nossa existência. Ela cria o tipo de luz sob a qual buscamos nossas esperanças e nossos sonhos de sobrevivência e mudança, primeiro como linguagem, depois como ideia, e então como ação mais tangível. É da poesia que nos valemos para nomear o que ainda não tem nome, e que só então pode ser pensado.”(p. 47)¹

A gente não quer só comer

A gente quer comer

E quer fazer amor

A gente não quer só comer

A gente quer prazer

Pra aliviar a dor... ²


“À medida em que os conhecemos e os aceitamos, nossos sentimentos, e o ato de explorá-los com honestidade, se tornam santuários e campos férteis para as ideias mais radicais e ousadas. Eles se tornam um abrigo para aquela divergência tão necessária à mudança e à formulação de qualquer ação significativa.” (p. 47) ¹

Ô, Audre, obrigada por mais essa. É assim que a gente (re)estrutura uma nação inteira por meio do amor: aceitando nossos sentimentos, produzindo palavra.


“Os horizontes mais longínquos das nossas esperanças e dos nossos medos são pavimentados pelos nossos poemas, esculpidos nas rochas que são nossas experiências diárias.” (p.47) ¹

Resistamos pela palavra! Ajamos pelo amor!



Maria Carolina Casati

curadora da #PRETAPALAVRA






¹ Lorde, Audre. Irmã Outsider: Ensaios e Conferências; Trad. Stephanie Borges. 1a. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

² Trecho da canção "Comida" dos Titãs

[Compositores: Marcelo Fromer / Arnaldo Antunes / Sergio Britto]




 





 



uma série de cursos, oficinas, aulas abertas e produção de conteúdo digital, que visa apresentar textos, poemas e pensamentos de mulheres negras, divulgando a "escrevivência" em seu sentido mais ancestral.



Conheça outras ações da iniciativa #PRETAPALAVA:

https://www.acapivaracultural.com.br/pretapalavra





Maria Carolina Casati é professora e escritora. Leitora voraz, apaixonada pela palavra, se dedica a pesquisas usando a metodologia da história oral. É idealizadora do @encruzilinhas, um projeto de leitura e debate de textos sobre negritude, gênero, feminismos e militância. Cursa o doutorado na EACH-USP, do Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política. Seu projeto, por meio da história oral de vida, analisa narrativas de mulheres negras casadas com italianos.







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