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Pedras de Malacacheta de Eduarda Rodrigues na Primavera Pretapalavra, por Oluwa Seyi



Salve, salve, pessoal! Que alegria trazer mais uma vez a este espaço de afeto e aprendizado, nosso #Pretapalavra, uma escritora com seu trabalho que assisti nascer. Creio que gosto tanto dessa bela tarefa de compartilhar aqui o sentimento despertado pelas primaveras que testemunhei justamente porque sinto que cada convite para a companhia foi uma grande honra, a qual é sempre bonito de recordar.


Conheço Eduarda Rodrigues, que pessoas próximas chamam Duda, há alguns anos. Temos amigos, trabalho voluntário, faculdade, escritoras favoritas e amor pela escrita em comum. Na verdade, até alguns primeiros passos no mundo da literatura temos compartilhados, em certa medida. Em 2020, fizemos parte de uma iniciativa da FLUP (Festa Literária das Periferias), Uma Revolução chamada Carolina, ao lado de muitas mulheres negras que respiram a escrita e outras artes. Foram semanas de encontros semanais online, trocas imprescindíveis com profissionais do texto, palestras e leituras que enriqueceram nossas trajetórias. Foi, sem sombra de dúvidas, muito mais que um processo formativo de escrita criativa/seleção para antologia: foi o respiro fundamental durante a pandemia e o distanciamento social que esta nos impunha a todos. Eu e Eduarda não frequentamos a mesma turma (éramos muitíssimas mulheres divididas em turmas por ordem alfabética, o que tornava o intervalo entre as letras E e O maior do que o comum), mas sei que vários sentimentos nos tocaram de forma parecida e levaram à certeza de que a literatura enquanto ofício esperava por nós.


Em 2023, Eduarda me contou que seu conjunto de contos, intitulado Pedras de Malacacheta, havia sido selecionado pela Editora Mondru entre várias outras obras submetidas a uma chamada que resultaria em publicação. Fiquei tão feliz por Duda! Enxerguei na alegria dela um pouco daquela que eu mesma senti quando meu projeto de livro de poemas foi contemplado pela Editora Urutau, um ano antes. Quando participamos da FLUP, nós compartilhávamos a paixão pela escrita e também a insegurança recorrente de quem há tão pouco tempo se permitia apresentar seus manuscritos; naquele momento da escolha do livro de Duda, o que passamos a compartilhar era a realização de um sonho antigo e guardado, mas nunca esquecido. Aquilo merecia júbilo: mulheres negras com pouco menos de 30 anos, mas que escreviam desde muito meninas, publicando suas obras solo pela primeira vez depois de algumas coletâneas. Finalmente a colheita.


Duda é historiadora, redatora e pesquisadora acadêmica, nascida em Malacacheta/MG, município cujo nome se exibe no título do livro que então ganhava contornos. Logo ganharia o mundo também. Fiquei ainda mais feliz quando, além da notícia, recebi o convite para redigir o texto de posfácio, o qual prontamente aceitei, mesmo antes de ler o livro. Eu sabia que encontraria contos contundentes, divertidos e emocionantes porque Duda costuma ser muito minuciosa consigo mesma, sempre desejando entregar excelência. E isso com certeza aconteceu em Pedras de Malacacheta. Li a obra em pouquíssimo tempo, de uma maneira muito dedicada. Quando terminei, precisei relê-lo porque percebi que estava tão absorta pelas histórias que me esqueci de fazer anotações ou criar alguma linha de raciocínio parameu texto. Ao fim de ambas as leituras, feitas em transportes públicos de São Paulo, sobrei eu e uma enorme vontade de conhecer o município de Malacacheta e descobrir com meus próprios músculos a sensação de cada ladeira da cidade. E olha que nem de ladeira eu gosto.


Escrever sobre e para esse livro foi uma experiência bonita e recompensante. Como todo texto produzido a convite e pelo carinho, me vi respondendo a uma carta muitíssimo aberta, mas que eu sentia ser um pouco para mim. Minha resposta, ali, naquele posfácio, era para a autora e também para todos os leitores que, com pés ligeiramente cansados pela caminhada sobre as pedras de uma cidade simultaneamente real e fictícia, chegavam ao fim do livro e talvez pudessem descansar junto das minhas palavras. Nesse momento, não pude não falar sobre a luminosa viagem literária e seu poder de nos fazer conhecer espaços nunca antes visitados e reconhecer detalhes do cotidiano que por vezes passam ilesos a nossos olhos aclimatados. Não pude não chamar atenção ao importante e complicado papel de nos reencantar com o que sempre esteve conosco, mas que fatalmente se perde, caso pisquemos, e tão rapidamente nos esquecemos de sua aparência. O livro de Eduarda me recordou dessas pequenezas admiráveis e creio que a muitas e muitos outros leitores também.


Trago a quem me lê agora a memória desse escrito tão primaveril (afinal, primeiro livro é sempre um tipo especial de renascimento de quem o escreve) e uma amorosa indicação de sua leitura porque acredito que o encontro com livros como esse podem oxigenar nosso direito e nosso afã de conhecer. Conhecer o outro, o novo, o longe, o dentro, o estranho, o complicado, o ameno, o simples. Nós mesmos. Conhecer vai nos despindo de tanta bagagem antiquada, mesquinha, pesada demais... E conhecer Malacacheta pelos olhos de Eduarda fez-me conhecer mais de muitos cantos por aí, até os meus próprios. Que passagem de avião, ônibus ou balsa me levaria a tantos lugares de uma só vez? Que bom foi poder viajar tendo só as palavras como guia. E essa viagem continua por aqui, no nosso #Pretapalavra, pois, no nosso próximo encontro, Eduarda nos contará sobre outras pedras e outras flores que inspiram sua escrita e povoam sua leitura/pesquisa. Seja bem-vinda ao nosso recanto, Duda! Obrigada pelas palavras que nos fazem pavimentar jornadas inteiras.











Oluwa Seyi nasceu em São Paulo, na década de 90. É poeta, pesquisasora, critica literária e percussionista. Possui graduação e mestrado em Letras pela Universidade de São Paulo, e atualmente desenvolve pesquisa de doutorado também em Letras, na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, pela mesma instituição de ensino. Seus interesses de pesquisa são a produção artística de mulheres negras e a representação da experiência afrorreligiosa nas artes. Autora do livro de poesia O que há de autêntico em uma mãe inventada (Ed. Urutau, 2022), do zine estudo poético do corpo (2021, edição independente) e da plaquete digital Poemas que atravesssam meu corpo negro & fêmeo (2024, edição independente) . Tem poemas, contos e artigos publicados em revistas e antologias literárias e acadêmicas de diversos estados do país, como Cartas para Esperança (Ed. Malê, 2022) e Cadernos Negros 44 e 45 (Ed. Quilombhoje, 2022/2024). Além da escrita literária, interessa-se em tradução de poesia e escrita para áudio-visual. Atualmente é integrante do Sarau das pretas, coletivo artístico-literário gestado por mulheres negras. Escreve desde que se recorda e não consegue imaginar a si mesma longe do lugar de produtora, apreciadora e crítica de literatura.














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