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Poesia em língua francesa, por Ana Cláudia Romano Ribeiro - Tradução&poesia





Esta seleção de poesia de língua francesa traduzida em português obedece aos seguintes critérios: ela deve trazer poemas que eu tenha descoberto recentemente, nunca tenha estudado e que sejam de autorias provenientes de lugares variados do mundo. Espero, assim – e com a valiosíssima parceria de tradutoras que se somam ao projeto –, abrir horizontes literários pra mim e para o público leitor. Esse desejo tem uma origem.


Entre 1995 e 2000 morei em Paris, na França. Fui baby sitter, secretária, estudei etnomusicologia na universidade Paris X - Nanterre, dei aulas de piano e português. Tenho saudade dos queijos e das livrarias e sebos, onde podia folhear trocentos livros de editoras grandes e pequenas, descobrir um mundo de coisas que não conhecia e até comprar uns livrinhos por um precinho camarada. Em 2014, comecei a dar aulas de literatura francesa na Universidade Federal de São Paulo sem, porém, ter à mão aquelas livrarias e sebos. A presente antologia é fruto dessa falta e desses dez anos de docência. Ela é regida pela vontade de explicar o que não conheço e busca responder a algumas perguntas que tenho feito a mim mesma com mais força desde que comecei a publicar meus livros de poesia: Quem escreve em francês? Onde? Em que países? Onde estão as autoras de língua francesa? O que escrevem? Por que até pouco tempo eu não era capaz de citar muitas autoras? Quem escreve em francês em um país que já foi colônia da França ou de outro país de língua francesa? Há autoras? Faz sentido essa pergunta? Quem são elas? Que relação elas têm com a palavra? Que relação têm com o francês e com outras línguas que coabitam um mesmo espaço geográfico e cultural? Como se relacionar com a(s) própria(s) língua e com a língua do outro? O que é a língua do outro? Que fazer com a herança colonial?


Interrompo aqui essas perguntas, que estão vinculadas a muitas outras. A presente seleção de poesia de língua francesa traduzida em português não responderá diretamente a nenhuma delas, mas conversará com elas que, afinal, são o substrato de onde brotam minhas escolhas.

Bonnes lectures!








Ana Cláudia Romano Ribeiro desenvolve projetos nos campos da tradução, das artes visuais, da escrita e da performance. Suas áreas de formação são Letras, Etnomusicologia, Teoria e História Literária e Estudos Clássicos. Atualmente é professora de literaturas de língua francesa no Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Em 2022, fez a curadoria do #poesiaqueer para A Capivara Cultural, onde coordena o NaLetra, com Deise Abreu Pacheco. Publicou O fragmento 31 de Safo e outros poemas (Urutau, 2023), A casa das pessoas (poemas, 7Letras, 2023), A vida de Deise, com Deise Abreu Pacheco (tirinhas, Hucitec, 2022), Sol talvez seja uma palavra (com o coletivo Anáguas, 7Letras, 2022) e Ave, semente (Editacuja, 2021). Duas de suas publicações mais recentes em periódico online são uma resenha desenhada para o romance desenhado Autoportrait de Paris avec chat, de Dany Laferrière (Criação & Crítica, 32, 2022), e “Figurações de pessoa-planta: traduzindo o poema Les pur-sang, de Aimé Césaire, à luz dos ensaios de Suzanne Césaire" (Translatio, 25, 2023). Traduziu, anotou e organizou a Utopia (1516) de Thomas More (Editora da UFPR), no prelo.









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