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PRIMAVERA PRETAPALAVRA, por Oluwa Seyi



Salve, Salve, pessoal! Sou Oluwa Seyi, poeta e pesquisadora de São Paulo, estreando minha participação por aqui neste início de primavera. E talvez não houvesse momento do ano mais oportuno que a chegada da primavera para viver este processo de curadoria — o qual tanto se assemelha ao movimento de escolher e colher as mais belas flores para um buquê.


Suceder Maria Carolina Casati, Mirian Santos, Carmen Faustino e Carolina Ferreira é uma alegria que pretendo honrar. Escrevi, anos atrás, num poema nunca publicado, que “a precedência me humaniza”, e talvez esta tenha sido uma das percepções poéticas mais acertadas que tive até aqui. Repisar as pegadas das minhas é ter a certeza de nunca estar sozinha. Agradeço ao território digital e afetivo que me recebe e permite que eu traga comigo uma confraria de mulheres que admiro e respeito por seus trabalhos e suas maneiras emocionantes de abraçar suas próprias histórias.


Ser, simultaneamente, poeta e pesquisadora de literatura tem sido uma experiência muito engrandecedora. Experimento, a partir deste meu olhar crítico-criador, uma formação contínua, cíclica e fundamental: ler - sentir - compreender - ressignificar - criar. Lendo as minhas, frequentemente encontro respostas (ou boas perguntas, que, ao meu ver, são mais úteis que as respostas). Encontro, não raro, o desejo de ler mais, de seguir escrevendo e de não perder a companhia dessas mulheres em minha escrita. Tive o prazer, recentemente, de participar de um encontro com a poeta e professora portuguesa Patrícia Lino, de quem ouvi algo que fez extremo

sentido para mim: entre nós, mulheres, não há a angústia, mas a alegria da influência. Não é depreciativo ter a luz de outras em nossos textos. Muitas de nós, mulheres negras escritoras, abordam assuntos similares de formas muito distintas, ou assuntos bastante diferentes de formas espantosamente parecidas.


Propositalmente ou não, o sistema de citação e intertextualidade recorrente nos esteia e organiza: ressoar a voz e a presença de outras mulheres negras escritoras parece um acordo tácito entre nós. Nos carregamos uma na barra da saia da outra; e ontem, quem levou, hoje é levada. Uma maneira bela de levar e ser levada é escrevendo junto; escrevendo de e para. E este conceito é o que define minha trajetória curatorial no blog Preta palavra: apresentarei neste espaço as escritoras que me convidaram a escrever paratextos importantes de seus livros — orelhas, prefácios e posfácios. Quero carregá-las aqui, na barra minha saia, como elas também me levaram, lá, em momentos tão relevantes de suas vidas, dias de saia rendada e engomada.


A primavera é momento de nascimento, e aqui, neste nosso cantinho de celebração das letras afro-femininas, quero recordar, ao longo dos próximos meses, os partos que pude presenciar e ser parte. Mesmo quando já formos verão, o cheiro das flores de papel permanecerá em nós. O que lemos, nunca nos abandona!


Sejam muito bem-vindas e bem-vindos à Primavera Preta Palavra!








Oluwa Seyi nasceu em São Paulo, na década de 90. É poeta, pesquisasora, critica literária e percussionista. Possui graduação e mestrado em Letras pela Universidade de São Paulo, e atualmente desenvolve pesquisa de doutorado também em Letras, na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, pela mesma instituição de ensino. Seus interesses de pesquisa são a produção artística de mulheres negras e a representação da experiência afrorreligiosa nas artes. Autora do livro de poesia O que há de autêntico em uma mãe inventada (Ed. Urutau, 2022), do zine estudo poético do corpo (2021, edição independente) e da plaquete digital Poemas que atravesssam meu corpo negro & fêmeo (2024, edição independente) . Tem poemas, contos e artigos publicados em revistas e antologias literárias e acadêmicas de diversos estados do país, como Cartas para Esperança (Ed. Malê, 2022) e Cadernos Negros 44 e 45 (Ed. Quilombhoje, 2022/2024). Além da escrita literária, interessa-se em tradução de poesia e escrita para áudio-visual. Atualmente é integrante do Sarau das pretas, coletivo artístico-literário gestado por mulheres negras. Escreve desde que se recorda e não consegue imaginar a si mesma longe do lugar de produtora, apreciadora e crítica de literatura.













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